quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Meu lado nada poético...



Há mais ou menos três anos já me encontrei no meio de um tiroteio no metrô de São Paulo, de lá pra cá devo admitir que minha visão da vida mudou um pouco, assim como medos cresceram assustadoramente, e por mais que eu tente pensar que não, ainda crescem. Não que não soubesse o quão frágil é a vida, mas pude sentir como nunca essa fragilidade. Queria imaginar que era um pesadelo, que não poderia ser real, que não estava acontecendo comigo. Mas aconteceu e me trouxe inseguranças, pânicos e pensamentos que vez ou outra podem ser considerados insanos. As amigas mais próximas aprenderam a conviver com isso, me distraindo em algumas situações e por outras vezes "embarcaram" em minha insanidade aceitando alternativas que eu considerasse mais seguras, faziam tudo sempre com muita leveza e naturalidade. E foi o que me ajudou a não deixar o medo me dominar por completo.

Fui criada em meio a doutrina espírita e desde muito cedo leio livros sobre o assunto, que sempre me fascinou. Minha família tem forte ligação com o Espiritismo Kardecista, e está nessa doutrina tudo o que realmente acredito e os ensinamentos que me esforço a seguir na vida. Sendo assim, sei e acredito que nada acontece fora do seu tempo, que nada muda ao fugir de situações onde tudo que estarei privando é minha própria vida. Queria que esse saber fosse o bastante pra abandonar meus medos e viver com a leveza que sempre me pertenceu, mas não é, o medo supera a minha própria razão. Nos últimos meses percebi que tenho me afastado cada vez mais a assuntos que se relacionem a morte,  senti meu medo ultrapassando a barreira do interesse. Passei a ler mais literatura estrangeira, e vez ou outra me pegava apreciando livros com tom de "comédias românticas", o que nunca antes havia despertado meu interesse, exceto em filmes. Os livros espíritas empoeiravam na estante...
Dia desses ao tentar assistir "Chico Xavier" com meus pais abandonei o filme na metade, os relatos de mortes e todo sofrimento terreno me deixaram inquieta como nunca havia acontecido, sai de perto alegando dor de cabeça e sentindo vergonha do meu próprio medo.

Hoje o programa em família foi ir ao cinema assistir "Nosso Lar" - Filme baseado em uma das obras de Chico Xavier. Tive medo que a mesma inquietação tomasse conta de mim, mas não aconteceu, assistir a continuidade da vida que eu tanto acredito me foi tranquilizador. Minhas certezas sobre a vida e espiritualidade advém de coisas que são tão minhas, de experiências, de passado, de família. Mas independente de religiões ou doutrinas, é bom acreditar. Hoje senti; é só o acreditar que ainda me mantem vivendo a vida, apesar de...

E especialmente hoje o filme acalmou meu coração, que vem tão irrequieto há semanas e talvez tenha me relembrado um caminho de volta pra calma...



*E o post era pra ser sobre o filme, e virou sobre mim, sobre medos e talvez tenha ficado tão confuso quanto ficam meus pensamentos, mas vez ou outra é bom escrever assim, sem pensar... Mostrar o lado em que até mesmo a poesia, escapa... (:


10 comentários:

Lu disse...

Compreendo você, Li, e posso imaginar um pouco desse medo que você tem experimentado. Digo um pouco porque, mesmo sem passar por nada semelhante ao que você vivenciou, tenho verdadeiro pavor de armas e violência; e, nesse caso, sei que é mais ou menos como você disse no post: o medo supera a própria razão. Desse modo, fico aqui me perguntando o que posso te dizer além do que você já não saiba. Logo pra você, que já me fez ver outros lados além daqueles que só me mostravam o medo, a insegurança... Sabe, uma, das coisas mais fascinantes na doutrina espírita, pra mim, é justamente o fato de ela nos esclarecer que somente encarando a nós mesmos, naquilo que pensamos e sentimos, conseguiremos transformar o que trazemos como negativo em nós. O que não é fácil. Graças a Deus que a Vida, generosa, nos proporciona afetos e situações que se tornam verdadeiro alicerce suprindo a vulnerabilidade dos nossos corações. É nisso que venho tentando me firmar, minha amiga. Se temos nossos momentos de fragilidade, temos – também – pessoas que nos amam, fortalecem e sustentam, não é? Bom, desejo que você consiga superar todo esse sentimento que te constrange, fortalecendo sempre a certeza de que Deus toma conta de nós! :)))

Beijinhos, fica bem!!

Ps: Você gostou de "Nosso Lar"? Tô doidinha pra ver! ...rss

Pss: Tentou novamente assistir o filme do “Chico”? É lindo Lí!! A atmosfera de perda e dor vai se desfazendo ao longo do contexto e um sentimento gostoso (de acolhimento e liberdade) vai nascendo na gente...É muito bom também!!! ;D

Michele disse...

Lí, seu medo pode vir um pouco de experiências passadas, um pouco do trauma, bastante comum de ocorrer depois que sofremos algo. Eu também fiquei um bom tempo com muito medo de andar de carro, após sofrer um acidente feio. Até hoje, se me lembro, fico tensa, mesmo quando não sou eu quem está dirigindo. Mas concordo com você que tudo tem seu tempo, até mesmo para deixarmos essas angústias de lado. No fim, elas nos ensinam uma porção de coisas boas, e valorizar a vida e as pessoas que amamos, é uma delas!

Assisti aos dois filmes e amei! Embora seja católica, acredito na doutrina Kardecista desde sempre. O que deve ser bastante confuso para quem me vê ir à missa, mas enfim... não consigo ver o ser humano, tão dotado de particulariedades, tão rico em sua história, viver uma só vida e tudo se acabar por aí! Acho sim que as pessoas do nosso convívio têm conosco laços indissolúveis, o que me alegra muito por saber que nunca me separarei de meus pais, por exemplo, já que nossa relação transcende em muito o relacionamento pais-e-filhos.

É bom que você tenha conseguido encontrar a paz novamente, querida! Talvez você tenha sido carinhosamente guiada até lá, para que tranquilizasse seu coração! :)

Um beijo grande!

Michele disse...

Li, assim que o quartinho dela estiver pronto, postarei uma foto para vocês verem! Não vejo a hora de ver tudo no lugar!!!! :)))

Beijos, querida!

Ana Luísa disse...

Ei Lily =]
Lindo seu blog.
E que bom que vc encontrou a paz de volta ao seu coração
=]
Beijoss

Michele disse...

Sim, sim, essa menina é muito safadinha! haha

Obrigada pelo elogio, querida!

Beijos todos!

Auricio disse...

Quando presenciei um assalto no transito (mais precisamente no carro a minha frente!) fiquei com muito medo também. Durante dias ficava apreensivo toda vez que tinha que pegar o carro e quando precisava passar próximo ao local do assalto era pior ainda...
Mas o bom de tudo isso é que passa, sempre passa...

Ainda não assisti ao filme sobre a historia de Chico Xavier, mas tenho vontade! O espiritismo é uma religião que gosto, apesar de conhecer pouco (ou quase nada, o que conheço baseia-se nos livros que li...)

Beijo!

Jaya Magalhães disse...

Lily,

Tentei procurar aqui mas não consegui encontrar alguma experiência semelhante à que você viveu. Não posso dizer então que sei como é. Não sei, mas julgo haver dificuldade e quero muito que, além do filme, os efeitos de paz permaneçam todos contigo.

Acho que seria interessante dizer que não tenho religião. Que creio em Deus. Que recentemente me vi meio confusa em relação à espiritualidade e tentei me apegar à doutrina espírita. Comecei inclusive a estudar o primeiro livro de Kardec, resolvi visitar o Centro e ver até onde ia minha crença. Contestei bastante, sabe? Mas também me senti muito bem. Demais.

Acontece que me falta a crença. Me falta essa coisa bonita de acreditar naquela série de dogmas. E isso me entristece bastante. Espero ainda voltar lá e ver como guio os caminhos. Deixa só o tempo passar e as coisas ficarem menos confusas nesse sentido.

Assisti ao Chico Xavier mas ainda não vi o Nosso Lar. Fiquei mais curiosa ainda.

Beijo grandão e desculpa ter sido tão extensa.

Michele disse...

Oi, querida!

Pois sabe que eu andei percebendo mesmo que algumas blogueiras andam falando em maternidade. Acho que a Maria Clara anda influenciando essa mulherada! haha

Obrigada de coração por nos desejar todas essas coisas boas, Li! :) Ficamos muito felizes!

Um beijo no coração!

Michele disse...

Estamos nos cuidando, querida! À base de leite com mel, balinhas Valda e doses cavalares de Rinossoro! haha

Um beijo grande!

Michele disse...

Lily, tão bom reconhecer que a vida é boa justamente porque sabemos reconhecer o quanto é simples, não? :)

Querida, sinto falta dos seus textos, da sua maneira doce de dizer o que se passa com você e fazer com que sintamos cada uma das suas palavras! Volta vai...

Um beijo e bom restinho de semana!