Daqui pra fora...

Lembro de tê-lo ouvido dizer o quanto a vida lhe inspirava novidade. Aproximei-me. Foi preciso sentar-se ao lado e ouvir o silêncio num momento onde não cabiam questões. Se falava de coisas bonitas, quis encontrá-las e trazer para perto tudo que não me pertencia; todas essas verdades bonitas da vida. E eu já soube de tantas que hoje seguro com força as que ainda são minhas. Mas e se o mundo pára de girar da janela pra fora, onde eu as encontraria?

Olhava-o de soslaio tentando conter perguntas inquietas, ele sorria como se soubesse da ansiedade em questioná-lo, em implorar que falasse onde encontrar mudança constante quando tudo pára. Mantive o silencio, que fora quebrado por uma canção, dessas tocadas, para que não pudesse cantarolar uma letra qualquer desviando-me do que importava. Sem conhecer o ritmo, apenas apreciei dando continuidade aos meus pensamentos que se postaram suaves. Uma nova canção, pensei, talvez essa seja uma novidade bonita do dia...

Continuamos ali por instantes, quando ele me tomou pelas mãos e finalmente disse:"-Novidades não precisam ser grandes". "E as grandes me assustam" - pensei, sem coragem tornar audível meus pensamentos.

Caminhamos em direção ao jardim e novamente nos sentamos em silêncio, observei o céu e movimento suave das nuvens, observei o movimento da água, e as flores que nasciam novas.

Faça isso todos os dias, falei a mim mesma. Uma música nova, um olhar atento as pequenas mudanças. Faça mais que isso todos os dias, pegue os papeis e mude o que quiser, crie quando quiser, mude o que quiser. Como quem ouve meus pensamentos ele continuou "Se tudo mudar para dentro, não há como parar o mundo lá fora..."

Eu sorri num longo abraço jogando a nós dois na grama molhada. A vida inspira novidade, afinal.